O desafio logístico na Amazônia Legal
O governo federal vai receber da CNI (Confederação Nacional da Indústria), amanhã(15), uma ampla radiografia das demandas logísticas da Amazônia Legal, uma área quase do tamanho da Europa, com seu imenso potencial de produção nas aéreas mineral, agrícola e industrial. São demandas que têm reflexo direto em todo o sistema de transportes do país e que necessitam de respostas urgentes – ou seja, obras prioritárias para atender à expansão da produção e manter a competitividade das commodities no mercado internacional.
A implantação de uma infraestrutura logística, englobando todos os modais de transportes – ferrovias, hidrovias, rodovias, dutovias, portos e aeroportos –, é um dos maiores desafios do setor produtivo brasileiro e do novo governo. Pela primeira vez, surge um estudo aprofundado, o Projeto Norte Competitivo, que desconsidera fronteiras regionais e internacionais e indica quais os nove eixos prioritários de integração de transportes e quais as obras mais urgentes.
O estudo demandou mais de um ano, tendo como ponto de partida a análise da complexa realidade socioambiental e geográfica da Amazônia. Foi encomendado à consultoria Macrologística pela CNI por meio da Ação Pró-Amazônia, que engloba as Federações das Indústrias dos nove Estados da região – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. As análises da equipe de técnicos e as soluções apontadas tiveram como fio condutor o potencial de integração nacional e internacional desses Estados, incluindo a análise de saídas pelo oceano Pacífico e pelo Caribe.
A partir do mapeamento das 16 principais cadeias produtivas da Amazônia Legal, responsáveis por 95% da produção local e 98% de tudo o que é exportado ou importado pela região, e de uma projeção do aumento da produção até 2020, chegou-se à identificação de 151 obras necessárias –112 em eixos no Brasil e 39 em eixos internacionais. Para realizar todas essas obras, seriam necessários R$ 51,8 bilhões (R$ 45,8 bilhões em território nacional).
O país não tem condições, obviamente, de fazer um investimento desse porte de uma só tacada. Por isso, depois de identificados os principais fluxos de movimentação de produtos na Amazônia Legal e as projeções de crescimento da produção, foi necessário realizar uma grande priorização para definir as principais rotas de escoamento. Nesse processo, foi até utilizado um software especialmente desenvolvido para o estudo e que operou com base em parâmetros de custos do frete interno, transbordo, tarifas portuárias e frete marítimo para todo o tipo de transporte (hidro, ferro, rodo, portos e aeroportos) e de carga (granel agrícola, granel mineral, carga geral, granel líquido e contêineres). A hidrovia Juruena/Tapajós, por exemplo, que poderia ser usada para o escoamento da soja do Mato Grosso, foi a que apresentou o maior potencial de redução no custo logístico, tanto com o volume de produção de 2008 (economia anual de R$ 921 milhões) quanto na projeção para 2020 (R$ 1,857 bilhão).
Dos nove eixos definidos como prioritários, cinco já existem, mas demandam melhorias (BR 364, rodovia Belém-Brasília e hidrovia do Madeira), duplicação (Estrada de Ferro Carajás) ou ampliação (Ferronorte, até Lucas do RioVerde/MT). Entre os quatro novos, a maior parte é composta por hidrovias (a Juruena/Tapajós, a Paraguai/Paraná desde Santo Antônio das Lendas e a hidrovia do Tocantins), além da BR 163. Para viabilizar o desenvolvimento desses eixos de integração, são necessários investimentos da ordem de R$ 14,1 bilhões. A estimativa de economia no custo de logística total da Amazônia Legal, que atualmente está em R$ 17 bilhões e que chegará em R$ 33,5 bilhões com o volume de produção previsto para 2020, alcançará R$ 3,8 bilhões anuais. Ou seja, o investimento total previsto se pagaria em menos de quatro anos com as economias obtidas.
Todas essas considerações são apenas pontuais diante da amplitude do estudo de mais de mil páginas de textos e gráficos que formam o projeto Norte Competitivo. Cada uma das 151 obras listadas, por exemplo, teve mensurado seu impacto ambiental e potencial de desenvolvimento (benefícios sociais, integração regional, geração de empregos e tributos). Eficiência gera menos impacto no meio ambiente. A relação de emissão de monóxido de carbono é de 50 para rodovias, 10 para ferrovias e apenas 1 para hidrovia.
Com a entrega nas mãos da presidente Dilma, o projeto passa à fase de implantação. Uma força-tarefa com dedicação plena, formada por um grupo multidisciplinar, deverá elaborar e implementar um Plano de Ação. O objetivo é implantar os projetos prioritários, com responsabilidades e cronogramas bem definidos e envolvimento de todos os atores – dos governos federal e estaduais às universidades, passando pelos legislativos, organismos públicos, iniciativa privada e ONGs.
Está plantada a semente de uma revolução logística que dará enorme competitividade aos produtos brasileiros. Que não faltem condições para que se transforme em árvore frutífera.
Olivier Girard é sócio da Macrologística e um dos responsáveis diretos pelo estudo que culminou no Projeto Norte Competitivo
Fonte:RD Online/Olivier GirardA implantação de uma infraestrutura logística, englobando todos os modais de transportes – ferrovias, hidrovias, rodovias, dutovias, portos e aeroportos –, é um dos maiores desafios do setor produtivo brasileiro e do novo governo. Pela primeira vez, surge um estudo aprofundado, o Projeto Norte Competitivo, que desconsidera fronteiras regionais e internacionais e indica quais os nove eixos prioritários de integração de transportes e quais as obras mais urgentes.
O estudo demandou mais de um ano, tendo como ponto de partida a análise da complexa realidade socioambiental e geográfica da Amazônia. Foi encomendado à consultoria Macrologística pela CNI por meio da Ação Pró-Amazônia, que engloba as Federações das Indústrias dos nove Estados da região – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. As análises da equipe de técnicos e as soluções apontadas tiveram como fio condutor o potencial de integração nacional e internacional desses Estados, incluindo a análise de saídas pelo oceano Pacífico e pelo Caribe.
A partir do mapeamento das 16 principais cadeias produtivas da Amazônia Legal, responsáveis por 95% da produção local e 98% de tudo o que é exportado ou importado pela região, e de uma projeção do aumento da produção até 2020, chegou-se à identificação de 151 obras necessárias –112 em eixos no Brasil e 39 em eixos internacionais. Para realizar todas essas obras, seriam necessários R$ 51,8 bilhões (R$ 45,8 bilhões em território nacional).
O país não tem condições, obviamente, de fazer um investimento desse porte de uma só tacada. Por isso, depois de identificados os principais fluxos de movimentação de produtos na Amazônia Legal e as projeções de crescimento da produção, foi necessário realizar uma grande priorização para definir as principais rotas de escoamento. Nesse processo, foi até utilizado um software especialmente desenvolvido para o estudo e que operou com base em parâmetros de custos do frete interno, transbordo, tarifas portuárias e frete marítimo para todo o tipo de transporte (hidro, ferro, rodo, portos e aeroportos) e de carga (granel agrícola, granel mineral, carga geral, granel líquido e contêineres). A hidrovia Juruena/Tapajós, por exemplo, que poderia ser usada para o escoamento da soja do Mato Grosso, foi a que apresentou o maior potencial de redução no custo logístico, tanto com o volume de produção de 2008 (economia anual de R$ 921 milhões) quanto na projeção para 2020 (R$ 1,857 bilhão).
Dos nove eixos definidos como prioritários, cinco já existem, mas demandam melhorias (BR 364, rodovia Belém-Brasília e hidrovia do Madeira), duplicação (Estrada de Ferro Carajás) ou ampliação (Ferronorte, até Lucas do RioVerde/MT). Entre os quatro novos, a maior parte é composta por hidrovias (a Juruena/Tapajós, a Paraguai/Paraná desde Santo Antônio das Lendas e a hidrovia do Tocantins), além da BR 163. Para viabilizar o desenvolvimento desses eixos de integração, são necessários investimentos da ordem de R$ 14,1 bilhões. A estimativa de economia no custo de logística total da Amazônia Legal, que atualmente está em R$ 17 bilhões e que chegará em R$ 33,5 bilhões com o volume de produção previsto para 2020, alcançará R$ 3,8 bilhões anuais. Ou seja, o investimento total previsto se pagaria em menos de quatro anos com as economias obtidas.
Todas essas considerações são apenas pontuais diante da amplitude do estudo de mais de mil páginas de textos e gráficos que formam o projeto Norte Competitivo. Cada uma das 151 obras listadas, por exemplo, teve mensurado seu impacto ambiental e potencial de desenvolvimento (benefícios sociais, integração regional, geração de empregos e tributos). Eficiência gera menos impacto no meio ambiente. A relação de emissão de monóxido de carbono é de 50 para rodovias, 10 para ferrovias e apenas 1 para hidrovia.
Com a entrega nas mãos da presidente Dilma, o projeto passa à fase de implantação. Uma força-tarefa com dedicação plena, formada por um grupo multidisciplinar, deverá elaborar e implementar um Plano de Ação. O objetivo é implantar os projetos prioritários, com responsabilidades e cronogramas bem definidos e envolvimento de todos os atores – dos governos federal e estaduais às universidades, passando pelos legislativos, organismos públicos, iniciativa privada e ONGs.
Está plantada a semente de uma revolução logística que dará enorme competitividade aos produtos brasileiros. Que não faltem condições para que se transforme em árvore frutífera.
Olivier Girard é sócio da Macrologística e um dos responsáveis diretos pelo estudo que culminou no Projeto Norte Competitivo
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